15/09/2008 |

[Artigo] Athos e a alegria no aprendizado do viver diário.

Ao invés de consumir idéias, palavras e produtos, ler o mundo. Ler imagens e contemplar paisagens. Ler a arte e fazer parte dela. Ser arte. "Antes arte do que tarde" (Bené Fonteles).

por Lana Guimarães*


Ao invés de consumir idéias, palavras e produtos, ler o mundo. Ler imagens e contemplar paisagens. Ler a arte e fazer parte dela. Ser arte. "Antes arte do que tarde" (Bené Fonteles).

Pensar em formas e reais possibilidades de educar a criança, o jovem e o adulto, dando-lhes capacidade de aprendizado, estimulando um olhar crítico sobre a sociedade a qual pertencemos e visando o desenvolvimento humanitário, cônscio e íntegro é uma ação necessária. Criar e recriar como fez Paulo Freire estudando profundamente o Brasil, nosso imenso país repleto de riquezas culturais, naturais, povos, desigualdades sociais. Para 'sua' Nova Escola, pensou: "estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las".

Ações educativas por meio da arte e cultura que enriqueçam o currículo escolar do sistema de educação formal faz parte da nossa realidade. Aos educadores, são bem-vindas ações que possibilitem estímulo, interesse, possibilidades e caminhos. E a arte é, em seus diversos segmentos, um caminho fértil para o despertar de buscas e encontros. E não a "busca pela busca. Mas um buscar consciente da felicidade que produz esse esforço por encontrar; com encontros que constituem tão somente novas plataformas para novas buscas" (Anísio Teixeira). 

A arte se comunica com quem a aprecia, as pessoas se comunicam artisticamente (aqui, em sentindo mais amplo e não conceitual do que é ou deixa de ser arte). A arte é comunicação, é integração de pensamentos, atitudes, tempo, culturas, natureza. É o retrato de um tempo atual. É memória. E Athos Bulcão sabe bem disso. Sua obra tem uma capacidade incrível de estabelecer diálogos, reflexões e continuidade.

Repleto de talento, generosidade e disposição para o trabalho, Athos muito espalhou sua arte por Brasília - e pelo mundo. Athos vê a cidade em construção. Um mundo novo é possível, um tempo novo para o Brasil é vivido no ato de construir algo diferente e único, inovador, imprevisto, aberto. Um estado novo, de espírito impetuoso e belo. Traduzido em concreto, é o imaterial que rege em forma de união, esperança, desafio, certeza, inspiração, busca,  criatividade, estudo, conhecimento, cultura, arte. Athos se vê na cidade. Athos constrói a cidade.

Para mim, Athos Bulcão é um grande educador. Silenciosamente, propõe o olhar ao espaço que nos rodeia. Propõe estar atento para o que a vida apresenta. Propõe a observação, ação inerente ao ser humano que aprende, ação que ensinou ao homem muitos mistérios, do cosmos e de si. Com personalidade de mestre, exerce características especiais: a integração da equipe de operários na fixação de suas obras - principalmente os painéis de azulejos - e a comunicação com a arquitetura e com os espaços que iriam abrigar suas obras em azulejaria, mármore, madeira ou concreto. Ele sempre buscou a integração harmônica não apenas da arte à arquitetura, ou das cores e formas em suas obras, mas da sua obra e as mãos que as montariam, e os olhos que as veriam. Ele cria e compartilha: "a obra de arte não pára, não acaba. Você empurra um pouquinho e deixa na mão dos outros. Comunicar é isso, espalhar". Há em sua criação uma especial postura cidadã e gentil.

Assim observo Athos e vejo a força iconográfica que seu trabalho possui. Um fascinante mosaico para a arte-educação.

O uso de imagens para o entendimento, para a formação de postura e conhecimento e para a comunicação com o mundo é uma poderosa ferramenta. E no processo educativo, além do "ver" e do "pensar", o "fazer" é fundamental na conscientização de cada indivíduo e nos sistemas coletivos. Para Ana Mae Barbosa, "a arte abre caminhos para a conscientização social, para a descoberta dos seus direitos, das suas obrigações".

Somado ao conceito de arte-educação, está a educação patrimonial. Lembremo-nos: o acervo de Athos é um bem cultural e sua maior parte está em Brasília, cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. A educação patrimonial é um processo centrado no patrimônio cultural, tangível e intangível, como ponte de ligação entre o passado, o presente e o futuro, como forma de estímulo ao conhecimento, apreciação, apropriação e valorização da herança cultural própria. Possui instrumentos para fortalecer sentimentos de identidade, laços sociais e responsabilidade para a sustentabilidade dos bens patrimoniais.  A arte em favor da educação patrimonial promove vínculos vitais de pertencimento e cuidado.

Provocadas por todos esses elementos - patrimônio cultural, educação, conscientização, arte, Athos, Brasília, hoje e amanhã - criamos em 2002 (eu, Tatiana Petra e Patrícia Herzog) o Programa Sociocultural BrasiliAthos. Trata-se de uma série de ações distribuídas em três linhas especiais de atuação, tendo como fio condutor a obra de Athos Bulcão. Com a primeira, Patrimônio: interpretação e preservação, realizamos o primeiro inventário das obras de Athos integradas a arquitetura em Brasília, em 2004, o qual será aprofundado junto ao IPHAN e a Fundação Athos Bulcão no corrente ano. A segunda linha é o Turismo Cultural, que promove a apreciação diferenciada de sua arte e a vivência da cidade por aspectos culturais em roteiros especializados. E a terceira é a Educação Patrimonial, onde criamos o projeto "Circuito Educativo BrasiliAthos", destinado a escolas do ensino fundamental. O livro "Na trilha dos azulejos: um passeio por Brasília pelas obras de Athos Bulcão", a "aula-passeio" e as "oficinas de sensibilização e de imaginação" são instrumentos utilizados nos três dias que ficamos em contato com cada turma participante. Para 2008 e 2009, a meta é atingir cerca de 30 escolas, 4.000 alunos e 200 educadores e contribuir para a dinâmica viva nas escolas. Escolas-arte, 'escolas-parque', escolas-vida. A escola vê o artista.

A busca e atribuição de significados da obra de Athos por meio da leitura de suas imagens e da contextualização de seu acervo e tempo, permite que o fazer artístico inspirado em seu trabalho seja altamente criativo, lúdico e livre. Permite releituras investigativas.

Com o Circuito Educativo BrasiliAthos procuramos integrar as crianças e Athos, criação e ação; Brasília cidade Patrimônio Cultural da Humanidade e 'cidades-satélites'; passado, presente e futuro; saber e fazer; memória, possibilidades, sonho e realidade, felicidade. Procuramos compartilhar conhecimentos e vivências e contribuir na formação dos indivíduos, estimulando mudanças sociais por meio da arte. Procuramos fazer como o próprio Athos faz em seu trabalho: instigar um olhar de aprendiz, de criança liberta que olha naturalmente para a magia das cores e formas em movimento, que busca a alegria no aprendizado do viver diário.

* Lana Guimarães é especialista em turismo cultural, diretora da empresa Tríade patrimônio turismo educação e coordenadora do Programa Sociocultural BrasiliAthos.


 


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